Demorei bastante para fazer essa postagem, até porque era algo que eu realmente não gostaria de escrever, mas um blog pessoal, retrata momentos marcantes, felizes e infelizmente tristes também.
A Golden Four esse ano, não foi pra mim uma competição, e sim uma prova de luto, de homenagem. Fui pega de surpresa na quarta feira com a notícia da internação, na Sexta ela faleceu, no Sábado foi o enterro e no Domingo a prova. Não tinha mais dúvidas, estava decidida, acabou, não vou fazer prova nenhuma, não tem como, não tem motivo; mas tinha. Só me lembrava da voz dela falando dias antes pra mim: " - Você vai fazer essa meia! Eu vou aí, e eu quero ver você correr bem essa prova!". Como negar esse pedido? Pedido esse que foi o último? Não tinha forças, mas família em peso, amigos me deram força para que eu pudesse fazer a prova. Tive medo, medo de ser julgada, mal interpretada, mas quer saber, dane-se, porque só eu sei o quanto ela participava ativamente da minha carreira, ela não era formada, mas falava com propriedade de tática de corrida, ela era do tipo que saia correndo metros antes da chegada, pra me avisar a posição que eu estava e me incentivar pra chegar logo, ela fazia amizades com pessoas na chegada pra fazer barulho quando eu passasse, quando se enrolava com a máquina de retrato, chegava logo em fotógrafo para garantir uma foto de pódio, ela viaja comigo pra tudo que era corrida distante e iria até pra marte se precisa-se, ela assinou um termo de responsabilidade da São Silvestre quando eu tinha 15 anos se responsabilizando de qualquer coisa que me acontece-se e chorou comigo na chegada e se orgulhou por eu conseguir completar a prova, ela tinha vaga garantida no ônibus do time na época em que eu fazia voleibol. Por isso, parei de me importar com que os outros iriam pensar e fui pra prova.
Cheguei na largada, titubeei, não tinha coragem de largar, mais uma vez fui incentivada e fui para aquela que seria a prova mais difícil da minha vida, larguei lá de trás, minha largada já tinha sido dada, não tive coragem de ir pra prova. Quando pisei no tapete, senti um aperto na garganta e notei na hora que não seria nada fácil. 21km chorando, parando, correndo. O que mais me doía era saber que eu nunca mais iria encontrar com ela na chegada de uma corrida. Completei a prova e foi só choro, só lágrimas, abraços : Pai, irmãos e amigos.
Percebi também depois, que nunca foi tão fácil subir no pódio da Golden Four, pois com um fato inédito, largaram apenas 3 elites, eu seria a 4ª, bastava completar a prova largando no meu pelotão. Mas minha cabeça não estava nem aí pra pódio, status, dinheiro e nem competição, só eu sei o quanto foi difícil fazer o que eu fiz.
*Gostaria de agradecer à todos os familiares que se fizeram presentes, Pai, irmã e irmão que me levaram para a prova, à todos os meus alunos, com mensagens confortantes, colegas de trabalho, vizinhos, Sarah Jones amiga da família que não nos abandonou nenhum momento, até pra corrida foi , ao meu amigo Alessandro Guzmán que fez parte dessa história retirando pra mim o kit da corrida, para que fosse possível fazer a homenagem, a organização da prova que mandou um torpedo com uma mensagem de conforto anexada ao tempo feito e a repórter Luma Dantas por apoiar a causa e validar a homenagem!
À todos o meu muito obrigada!!!